quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

infrutíferas
meus desejos na tua boca
pra me criar
invento um nome
saio na rua numa liberdade violenta
que me abraça e me pune
não me explico
não lhe dou satisfação
não almejo seu perdão
 
das frutas
todas quero
ao alcance 
de minhas mãos
 
vivo

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

pra enterrar nosso amor 

não preciso construir uma piramide

nem um mausoléu estilo taj mahal

coisa pouca e breve que ele foi

coisa pouca e leve que ele é

ainda bem eu festejo

pra enterrar nosso amor

nele enxergo uma semente

e faço plantio direto no berço

domingo, 27 de março de 2022


no pulo dos pardais
nas flores do jerimum
no canto noturno das rãs
os dias passam 
as folhas caem
outras nascem
as mãos que por ora engrossam 
conquistam maior afinidade com os espinhos
isso tudo é tão comum
água aparada na bacia
casa de abelha 
os pés crescendo ali
uma chibanca que descansa na sombra 
depois do almoço
querendo digerir essa vontade danada
de chamar um cupim
pra roer a porta do tempo
eu não me importaria
aliás eu gostaria
de numa enxertia
ser o seu cavalo
tudo aquilo que vai ficando 
nem no começo nem no fim
mas no meio do poema 
bendizer o vaso de um floema
enquanto isso os galos
botam o sol pra dormir 
e as estrelas vão germinando
lá longe
lá longe

segunda-feira, 7 de março de 2022

deixo guardado um mistério
no fundo de tua axila
 
peito e umbigo já são muito requisitado
pra esses assunto de abrigo
 
o mundo é um cacho de banana com carbureto
pra amadurecer mais cedo
 
há muitas formas de abreviar a vida
ou esconder um segredo
 
todavia meus olhos continuam a salivar
com a gostosa castanha que envolve tua pupila 

ladainha


 
cavar um poço na tua memória
chafariz de ladainha 
aparar o vento numa bacia 
mais tarde arear as ideias
refletem as panelas ariadas
a dor oca da caristia
governo de si e a liberdade de escolha 
dos que sentem fome
como aquele dia
como ter uma arma apontada na cabeça 
o mundo segue tudo segue
estender os lençóis freáticos
e deixar secar num varal
vender
vender tudo
chove tanajura nessa tarde
e corre um cavalo 
dentro de ti
e dói 
dói muito

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

como posso me aproximar do amor?

se o mais perto de terra que me chega aos pés é esse solo compactado?
cavo
a sucessão do capital quer transformar tudo em chão cimentado
temo

olho para o lado as pessoas estão com fome
e a terra está cercada
com muito gado muito gado
tem segredos que não podemos esquecer,
mas sinto que aos poucos estou me esquecendo
meu bem
tento com muita força guardar comigo
o movimento das mãos
os caminhos que me levam a estabelecer comunicação
com ela
como posso fazer comida
como posso fazer um rito
como posso fazer amor
como posso ser coletivo
como posso matar,  como posso viver
tenho medo tenho medo de me esquecer
sementes geneticamente modificadas
são programadas pra não se reproduzirem mais
frutos inférteis a lambuzar nossa boca
o alimento envenenado está a nos contaminar a vida
confundindo os sentidos
erro a direção
não são de plástico minhas intenções
mas o delírio do consumo
pode acabar por me colorir o dia
preenche de lixo o vazio
me faz acreditar: banal é o que é real
os olhos as mãos os pés o indizível o intocável
 
como posso me aproximar do amor?
acho que estou me esquecendo
ontem morreu mais um rio
e não pude chorar nem uma lágrima
pra economizar nossa pouca água
de morte morrida eles também mata
eu não tenho medo da morte
porque também sou bicho nato
só que não me acostumo nunca
com porcaria de assassinato

quero cavar berço não quero cavar cova
quero cavar berço não quero cavar cova
quero cavar berço eu não quero cavar cova
me repito várias vezes ao dia
nele plantar feijão e ver crescer os caroço
colher cozinhar comer
isso é desejo primeiro
quando tudo ainda é abstrato
desejo fundador
por a boca sentir o gosto comer
mas como o fazer
nessa terra banhada a sangue
e glifosato?
monocultura e mata mato
quanta gente também num mata?

injusto é o velho e o novo normal
tipo fome oculta mascarada com açúcar
senhores de engenho modernos
continuam a defender seus canaviais
“desastres ambientais são castigo divino,
deus sempre sabe o que faz”
mas eu sei que no escuro da noite
eles sentem medo que essa gente também escura
decepe suas brancas cabeças
nada de divina, é justiça social
 
quando proibiram os tambores
esqueceram dos que trazíamos no peito
ainda que esqueçamos tudo
continuará o batuque aqui dentro
tem segredo que nunca poderemos tocar
como um amuleto, num tem jeito
é o que ainda me dá esperança de acreditar
e sim, eu sei que falo besteira
e misturo todos os assuntos
nasci com essa avaria de confundir os significantes 
e mesmo quando tu está dentro de mim
não deixo de pensar
em toda merda, em toda dor
me desculpe
acho que minha alma está ferida

ainda assim sinto
o peito querendo se  abrir
peixes de água doce e salgada aproveitam por mim
céu nuvem cor pétala pedra tronco areia gota
transmuto-me pra tocar aquilo que ainda não alcanço
corpo futuro
de mundo
de sonho de saliva e muita comida
buscar reflorestamento e reforma agrária
também no solo do pensamento
aos poucos, avanço
acreditar pra construir o caminho
sabendo que ele não se faz sozinho
guardar todas as sementes da paixão
ainda que em segredo

tem coisa que nunca sara
mas desejo também que a gente nunca pare
há de ser possível apesar de toda dor
como posso me aproximar do amor?
ainda não sei
então
por ora,
me aproximo
da palavra